O Analista de Mercadinho em Tá tranquilo!
Autoria: Nelson Mucenic – Eng. Agrônomo.
– Mas e aí, Catanga, tranquilo?
– Tranquilo!
– Cumé que tá as coisa?
– Tranquilo!
– E a lavoura?
– Tranquilo!
– Vai dá prá pagá as conta?
– Tranquilo!
– Mas tchê, Catanga, que xêro é esse?
– Tô tranquilo!
– O quéqui ôvi contigo, tchê?
– Rapaiz, eu tava nervoso e fui na farmácia. Pedi um relaxante.
– E aí?
– O Zé oviu laxante e me deu o remédio errado.
– Bah!
– Só vi depois que tomei, lá mesmo na farmácia. E aí ele me trosse o relaxante e eu tomei também. Não deu tempo de atravessá a praça. E agora eu tô aqui sentado, tranquilo. Parece que o preço vai subi, não é não, Lorivali?
– É tranquilo, tá favorávi!
*****
Tanto para um liberal quanto para um socialista a solução para os males da democracia é mais democracia. O problema é o que significa “mais democracia” para um e para outro. E tanto em um caso como no outro, chega-se a um beco sem saída: mais intervenção do Estado e menos liberdade. Mas a democracia, ou o excesso dela, não é o contrário da ditadura; ela é a causa da ditadura, disse um pensador. Isso é tão certo quanto alguém que planta pepino: vai colher pepino. Mas a cancha aqui é curta para tanta explicação.
Digo isso porque, no terreno que nos interessa, há quem pregue que, para os males do mercado, a solução é mais intervenção. Para outros a solução é mais mercado. A estória acima, embora engraçada, é trágica e ilustra o quanto uma intervenção pode lograr um efeito oposto. O problema imediato foi resolvido mas tem-se um outro, igual ou maior a reboque por, digamos, falha na comunicação, por desatenção. Tanto para quem ministrou, para quem estava “tranquilo” ou para quem se aproximou do vivente.
O fato é que esse verde pendão de esperança, como diz o hino à bandeira, que viceja e excita o produtor a cada safra, muitas vezes ilude até o momento em que ao final do ciclo o verde se transforma em louro e a realidade cai como uma marreta no dedo de quem produz.
Dizer que o mercado se auto-regula é apenas uma meia verdade quando o foco é a querência, na medida em que a conjuntura econômica, o câmbio e a própria malha de tributos apresentam uma realidade diversa nos países vizinhos e pressiona o mercado brasileiro. A visão ampliada deixa entrever maiores desigualdades pela interferência de governos que tratam o setor como política de Estado. Essa situação tende a permanecer e prolongar a incerteza da atividade, que fica sujeita ainda aos humores dos políticos de todos os cantos do planeta.
E assim a atividade agrícola, assolada por variações climáticas e pela influência de crises econômicas, sofre ciclos de alta e de baixa ao longo da história, ora com a interrupção, ora com a destruição, seja da oferta ou da demanda. Ao produtor cabe empreender a melhor leitura da realidade a cada momento. Um olho no céu para mirar o tempo divino ou o clima reinante e outro na terra para entender o nosso tempo, o cenário econômico presente. Ainda assim, a cada ciclo que passa, vamos encontrar gente sentada na praça. Isso é tranquilo.
1 Comentário
É bem isso aí…..estamos sujeitos a chuvas, trovoadas , desgovernos e ao infame tratado Mercosul. Isto sem comentar sobre o cartel industrial.